sexta-feira, janeiro 27, 2012

UM DIA DE CADA VEZ


Viver é uma arte, quando se entende que viver não é apenas existir. Vegetar é uma coisa; viver é outra.

Não basta viver; é preciso viver bem, o que não se consegue senão a poder depurada técnica. Todo homem deve ter, pois, a sua filosofia de vida - uma espécie de manual do bom viver.
Cristo foi mestre consumado dessa matéria. Uma das regras que ele ensinou para a conquista do êxito foi esta: viva-se um dia de cada vez.
A vida é como alimento, que deve ser dividido em bocados, ou como a água, que deve ser ingerida aos goles para que não sobrevenha a morte por asfixia. Não se deve viver empanturradamente, compactamente, por antecipação, somando o futuro ao presente. Hoje há de ser simplesmente hoje e não hoje mais amanhã.

No sermão do monte, Jesus advertiu:
"Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, pois o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal" (Mateus 6:34).

Sempre dentro desse esquema, Cristo, na oração dominical, ensinou-nos a pedir o pão de cada dia:
"O pão nosso de cada dia no dá hoje" (Mateus 6:11).

O mesmo método se aplica ao sofrimento. A cruz que nos toca levar será a de cada dia e não a de muitos dias juntos:
"E dizia a todos: se alguém quer vir após mim negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me" (Lucas 9:23).

Quantas vezes deixamos de gozar a felicidade do presente pensando nas supostas desgraças do futuro! Ou fazemos diferente, mas nem por isso menos mal: deixamos de gozar a felicidade do presente pensando na felicidade do futuro. Felicidade também suposta.
Horácio foi exato quando disse: Quem transfere a hora de fruir a vida na plenitude assemelha-se ao camponês que espera que o rio seque para atravessá-lo.
O psicólogo William Moulton Marsten fez a 3.000 pessoas a seguinte pergunta: Qual a sua razão de viver?
O resultado do inquérito deixou-o surpreendido porque a quase totalidade dos interrogados - 94% - confessou que suportava o presente na expectativa de um futuro melhor.
Uns aguardando uma sonhada viagem; outros, melhoria de emprego; ainda outros, aposentadoria. Todos esperando por um bilhete premiado, como se a vida fosse loteria!
Errado.


UM POUCO DE SOL

 

Estou Construindo Uma Catedral

 

Dois pedreiros estavam assentando tijolos. Alguém que passava perguntou a um deles:
- Que é que o senhor está fazendo?
- Estou levantando uma parede.
- E o senhor? - perguntou ao outro.
- Eu estou construindo uma catedral.

Os dois eram operários. Usavam a mesma ferramenta. Utilizando-se do mesmo material. A obra que faziam era a mesma. Mas um apenas construía, enquanto o outro construía uma catedral.
Na vida acontece o mesmo. Uns simplesmente vivem; outros sonham. Estes vivem, aqueles vegetam.
A vida tem o sentido que lhe damos. Pode ser aventura e pode ser rotina. Excitante ou insípida. Vulgar ou nobre. Vida ou vidinha, segundo o nosso estilo de vivê-la.
Até nas coisas banais. Eis um jardim: alamedas, canteiros, flores, pássaros, cor, perfume.
Para alguns aquilo é jardim e para outros um mero quarteirão a mais na cidade grande.
Jesus sempre esteve entre os primeiros: "Olhai as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai Celestial as alimenta... Olhai os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam" (Mateus 6:26, 28).

Para cada um de nós Deus tem sempre um poema para ser lido na página de um dia antes da página de outro dia. Pode ser um sorriso de criança, uma bênção de mãe, um sussurro de prece, um fumo de chaminé, um apito de fábrica, uma caçarola fervendo, um canteiro de verdura, um pôr-do-sol. Que felicidade de pobre também é felicidade... quando ele sabe ser rico de felicidade.
Faz-nos pensar na história do matuto.

Conversavam os dois, ele e um jovem enamorado em uma noite de luar.

- Que noite linda - diz o moço num suspiro.
- Linda, sim, pra caçar tatu, resmunga o outro, cuspindo pro lado.

Moral da história: enquanto uns levantam paredes, outros constroem catedrais